"Ser poeta é ser mais alto, é ser maior... é ser mendigo e dar como quem seja rei do reino de aquém e de além dor... é ter cá dentro um astro que flameja, é ter garras e asas de condor... é ter fome, é ter sede de infinito... é seres alma e vida em mim e dizê-lo cantando a toda a gente" (Ser poeta, Florbela Espanca).
Ser poeta é ter o dom inato de olhar tudo o que mexe dentro e fora de si, que vive refém da necessidade de o pôr em palavras. É grande porque vê para além do horizonte, sem medo daquilo que está para além dessa linha. Pode ser pobre, ser mendigo, mas é dono de territórios, viajante de pés no chão, dono de tudo o que toca, de tudo o que vê. É saber que tem em si garras, dentes, sangue e lágrimas, mas também sorrisos, esperança e asas para voar. É ter fome de conhecer, de tocar as coisas, de as sentir verdadeiramente, sem medo de passar a ponte. Ser poeta é gostar de chocolate porque as palavras tornam-se doces e lindas, tornam-se canção que mesmo dura não fere, melodia que fica. E acredito que em cada um de nós mora um poeta porque tudo o que temos cá dentro e tudo o que está lá fora, é poesia. Os afectos são poesia, as pessoas são poesia, a natureza é poesia pura, já escrita. E a poesia não se esgota, há sempre um novo olhar que dá vida às coisas...
Caminho para chegar lá porque o cá não é já suficiente,
Caminho para aí porque aqui está frio,
Caminho para encontrar o que quero agarrar,
Caminho para lá porque cá estou só,
Caminho para aí porque aqui me sinto pouco só,
Caminho para olhar o que já tenho,
Corro para apanhar quem me faz falta,
Corro sem medo e passo pela ilha das incertezas,
Corro para chegar primeiro e preparar o espaço para ti,
Corro para abraçar quem de mim precisa, sei que também vou precisar,
Corro e descanso porque não tenho pressa de chegar,
Caminho e desfruto aquele sorriso,
Caminho e sinto aquele cheiro,
Caminho para te alcançar mas sem pressa porque sei que não partes sem mim,
Corro para aqueles braços que me agarram quando preciso,
Caminho sem pressa para a via verde da vida!
Dias há em que custa ser,
Dias em que dói querer e não poder,
Querer chegar e não saber o caminho,
Querer mudar mas sem força para começar,
Há dias em que custa ser,
Dias de espera,
Dias em que espero por ti,
Mas não chegas,
Dias há em que custa ser,
Dias em que as incertezas fustigam a alma,
E a deixam doente de vontade,
A vontade de me mudar,
Há dias em que custa ser,
Apetece ser o que não sou,
Estar com quem não estou,
Deixar de sentir o que a estou a sentir,
Dias em que a vontade parece tímida,
E dá lugar à imperiosa preguiça de me deixar estar,
Há dias em que apetece fugir da chuva,
Ou deixar-me atingir pelo seu toque esquivo e frio,
Há dias em que não quero ser,
Quero comprar outra vida,
Mudar-me para outro recanto,
Fugir de mim, de quem me quer,
Encontrar-me...
Achei-me e Hoje,
Hoje não custa tanto ser,
Quero estar contigo,
Quero voltar a sentir o que conheço,
Quero vestir-me de vontade,
E estar onde sempre estive,
Quero estar com quem me quer,
E hoje chega... quero ser,
E amanhã logo se vê!