Fala-se agora que o sismo em Itália, foi previsto e que as consequências que todos conhecemos, que entram em nossa casa pelas caixinhas de ligação global, poderiam ter tido contornos diferentes. Perante um acontecimento existe sempre a tendência para encontrar a mão da culpa, os factores externos ao indivíduo que tornaram a guerra impossível de vencer. Sabe-se agora que um sismólogo tinha já previsto esta ocorrência na sua bolinha de cristal, mas também sabemos que a localidade mais atingida se encontrava em chão trémulo, capaz de acordar menos bem disposto num amanhã que haveria de chegar. O Homem pensa-se poderoso pela sabedoria da ciência e pelo avanço das tecnologias, capaz de prever e de controlar até a independente mãe natureza. A morte nunca morre solteira e queixa-se sempre de alguma coisa, se a Joana não tivesse trabalhado até mais tarde, não estaria no edifício durante o assalto e ainda cá estaria hoje para contar como foi. Mas foi precisamente por Pedro trabalhar até mais tarde para terminar a campanha de publicidade que tinha em mãos, que perdeu o comboio que apanhava habitualmente. Comboio esse, que chocou com um outro, provocando uma nuvem de choro e de sangue. Ou seja, há sempre desculpa, nem que seja aquela de que o coração parou de bater. E depois há a rapariga com Valente de sobrenome que esteve coberta por escombros durante cerca de 23 horas e que ficou para contar como foi e como acha que vai ser daqui para a frente. Marta Valente chorou e as únicas palavras que proferiu ao ser resgatada, pertencem a um refrão de uma canção "eu penso positivo porque estou vivo".