Manter uma relação é tão difícil, diz Joana num tom soado e frágil. A Joana pensava que a chama da paixão estaria constantemente acessa e que a partilha do mesmo tecto iria ser de segunda a sexta, incluindo fim-de-semana e feriados, um cenário doce, quente e melodioso. Pois, mas a sinfonia nem sempre está afinada, as vozes nem sempre se escutam, as vontades nem sempre se abraçam e os olhares nem sempre cintilam. Pois, Joana esqueceu-se da terceira pessoa com a qual partilham o dito tecto. Tem de nome Rotina, acorda e adormece na vida afectiva daqueles que escolhem dar a mão a uma caminhada em comum. Tem um lado bom, o lado da segurança e do conhecido e um lado mais entediante pela previsibilidade, pela ausência da surpresa e da magia. Mas voltemos a Joana, deixemos-lhe umas palavras de alento. Há dias em que nos sentimos diante de um príncipe e noutros diante de um sapo. Há dias em que agradecemos tê-lo conhecido e noutros cantamos "mais vale só que contigo". Dias em que o mar está agitado e noutros em que parece um rio sereno e límpido. Há dias solarengos e outros chovosos. E num mesmo dia podemos vislumbrar céu azul, céu cinzento, anoitecendo estrelado. Há dias em que sentimos que nos saiu a lotaria e noutros nem por isso. Mas o alento mora na personalidade deambulante e irrequieta da relação e das pessoas que nelam moram. Quando o sentir que une dois seres diferentes que arriscam olhar numa mesma direcção tem sede no acreditar e no querer continuar o pacto "mão na mão", a esperança no amanhã não morre de ânimo leve. A luta persiste frente ao próximo altar de paixão, porque no amor há bis, vontade de repetir e de começar de novo dia após dia.