"Voltámos para Colombo algumas horas depois. Exausto e a pingar suor, precisava de tomar um duche quente e descansar. Mas não conseguia deixar de pensar nas pessoas presas na zona de conflito, suportando os horrores da guerra em condições calamitosas". Excerto de notícia, no jornal público de 02 de Maio - Sri Lanka.
Deixo aqui estas palavras escritas por um jornalista que não se conseguiu despir totalmente no seu banho, porque a sua mente estava habitada pelo sofrimento das gentes que viu, gentes que não podem virar costas e tomar simplesmente um banho descansado. Achei graça a estas palavras porque representam a globalidade de viveres, a discrepância de sentires de uns e de outros. Uns vivem compassadamente os seus dias, pensam no que amanhã vão vestir, no que farão amanhã para o jantar, que esta semana tentarão ir mais vezes à ginástica, pessoas que pensam que destino dar ao subsídio de férias e ao IRS, caso seja caso disso. E outros vivem desesperadamente para que a sua existência marque horas e segundos no dia a seguir, aqui não há tempo para pormenores, é tempo de lutar para sobreviver. Por isso, muitas vezes penso que fui bafejada pela sorte, nasci num país democrático, sem guerras, com oportunidades, com espaço para que a minha vida possa desabrochar em pleno.