Ai aquele conforto
Aquele sentir... de quando o dia cessa com sucesso
Ai aquele conforto de encontrar o que procurávamos
Aquele sentir de que dissémos o que devia ser dito
Ai aquele alívio... de achar de demos o máximo
E que superámos a prova
Ai o conforto daquela palavra, daquele gesto, daquele toque
Sabe bem sentir que falhar é humano
Que quem não sente não é filho de boa gente
E que ao esperarmos podemos alcançar
Ai aquele conforto de um dia bem passado
Aquela gargalhada que não nos cansa, antes descansa
Ai aquele conforto... de amarmos o presente que temos
Aquele conforto de piscar o olho ao amanhã
Ai aquele sentir esquecido de que somos mortais
Ai o prazer de um sorriso, de um olá, de um obrigado
Aquela companhia que nos faz desejar a vida
Esquecer a noite e desistir das horas
Ai o conforto... de sermos aquecidos pelo sol
Aquele conforto que sentimos quando chove lá fora
E nós aninhados no colo dos lençóis
Pequenos grandes prazeres
Que queremos repetir, sentir de novo e que alentam a caminhada
E o próximo passo!
Parece que falta sempre qualquer coisa, diz Joana. Falta aquela camisa lisa de cor azul no nosso atelier das vestimentas que nos cobrem, falta aquele perfume que inundaria Lisboa e arredores com o nosso cheiro, falta aquele "modelito" de sapatos para calcorrear as ruas que assim pareceriam menos compridas. Falta sempre alguma coisa na conta bancária e falta tempo para fazer tudo aquilo que achamos que nos iria preencher ou tornar pessoas mais ricas de bem-estar e de felicidade. No fundo, e voltemos ao início, falta sempre qualquer coisa, a caminhada da satisfação é ávida, muito gulosa e ingrata. Ou talvez o saco não tenha fundo, talvez não acariciemos o que temos, talvez nos desapaixonemos rápido de mais, talvez contemplemos de menos e pensemos no que vem a seguir de mais. A insatisfação pode não ter limites e dói e faz doer porque ficamos negligentes com aquilo que é realmente importante em busca do elixir que desenfreadamente querememos tornar nosso, achando que com aquilo sim... E depois os tesouros que temos que manter, que cuidar religiosamente, ficam para atrás esquecidos e desamparados, sem mimo, no baú do sotão. A palavra que nos sossega, o abraço que nos securiza, o ombro que se oferece sem o pedirmos, o colo fofo que não se encontra em loja alguma, o afecto que nos alimenta sem apresentar conta, a companhia que nos aquece, a presença que nos ilumina, o prazer de ter alguém com quem partilhar o que é nosso, o prazer de ter alguém que connosco caminha. Isto sim é algo que só os loucos deixam faltar às suas vidas, e nós não somos loucos pois não?