Parece que falta sempre qualquer coisa, diz Joana. Falta aquela camisa lisa de cor azul no nosso atelier das vestimentas que nos cobrem, falta aquele perfume que inundaria Lisboa e arredores com o nosso cheiro, falta aquele "modelito" de sapatos para calcorrear as ruas que assim pareceriam menos compridas. Falta sempre alguma coisa na conta bancária e falta tempo para fazer tudo aquilo que achamos que nos iria preencher ou tornar pessoas mais ricas de bem-estar e de felicidade. No fundo, e voltemos ao início, falta sempre qualquer coisa, a caminhada da satisfação é ávida, muito gulosa e ingrata. Ou talvez o saco não tenha fundo, talvez não acariciemos o que temos, talvez nos desapaixonemos rápido de mais, talvez contemplemos de menos e pensemos no que vem a seguir de mais. A insatisfação pode não ter limites e dói e faz doer porque ficamos negligentes com aquilo que é realmente importante em busca do elixir que desenfreadamente querememos tornar nosso, achando que com aquilo sim... E depois os tesouros que temos que manter, que cuidar religiosamente, ficam para atrás esquecidos e desamparados, sem mimo, no baú do sotão. A palavra que nos sossega, o abraço que nos securiza, o ombro que se oferece sem o pedirmos, o colo fofo que não se encontra em loja alguma, o afecto que nos alimenta sem apresentar conta, a companhia que nos aquece, a presença que nos ilumina, o prazer de ter alguém com quem partilhar o que é nosso, o prazer de ter alguém que connosco caminha. Isto sim é algo que só os loucos deixam faltar às suas vidas, e nós não somos loucos pois não?