Uma pessoa que muito estimo disse que o dia dos namorados deveria ser banido do calendário. Neste dia, casais unidos pela flecha do cupido teimam em não esconder que são um só e que aproveitam o dia de São Valentim para dar um pontapé à crise e convidar a cara metade para um belo jantar calmo e romântico num restaurante, que de só e de calmo não tem nada, porque mais casais tiveram a mesma ideia. Esta pessoa que muito estimo fica enervado por este dia, que de Nacional tem pouco, mover tanta gente, mover tantas rosas, mover tantos presentes, mexendo assim a economia e o rol de beijos, abraços e de "gosto muito de ti". Realmente, costuma-se dizer que dias de cupido deveriam ser todos os dias, mas talvez assim, com um "dia 14 de Fevereiro" olhemos verdadeiramente para quem mora a nosso lado. E como andamos distraídos, o dia de São Valentim constitui-se como lembrete, como aqueles que colocamos no telemóvel para que não esqueçamos datas ou acontecimentos importantes. Nós que sofremos da doença de pensar que tudo é certo, que o amanhã virá sempre e que coisas ou pessoas têm lugar cativo. Por isso, este dia lembra-nos que não devemos adormercer na sombra, porque o amanhã se quiserem a Deus pertence mas o presente pertence-nos a nós, e por isso nada melhor que valorizar um bom colo, um bom coração e um bom corpo a corpo, porque se vale a pena, pelo menos por agora, vale a pena dizer "gosto tanto de ti", comprar uma rosa pintada com um beijo que de tímido não tem nada. E quando não há tempo para dizer nada verdadeiramente sentido neste dia do amor, é muito mau sinal, é sinal que a rosa perdeu a cor e que o beijo começou a ser tímido, e talvez para esta gente o dia do amor não devesse existir, ou porque este lhes lembra o quanto se sentem sós ou porque se sentem pesados pela infindade de dias que deram à sua cara metade... resta que tenhamos vontade para mudar e lutar para voltar a sentirmo-nos parte do mundo dos afectos e dos olhares correspondidos que de tímidos não têm nada!
Parece que falta sempre qualquer coisa, diz Joana. Falta aquela camisa lisa de cor azul no nosso atelier das vestimentas que nos cobrem, falta aquele perfume que inundaria Lisboa e arredores com o nosso cheiro, falta aquele "modelito" de sapatos para calcorrear as ruas que assim pareceriam menos compridas. Falta sempre alguma coisa na conta bancária e falta tempo para fazer tudo aquilo que achamos que nos iria preencher ou tornar pessoas mais ricas de bem-estar e de felicidade. No fundo, e voltemos ao início, falta sempre qualquer coisa, a caminhada da satisfação é ávida, muito gulosa e ingrata. Ou talvez o saco não tenha fundo, talvez não acariciemos o que temos, talvez nos desapaixonemos rápido de mais, talvez contemplemos de menos e pensemos no que vem a seguir de mais. A insatisfação pode não ter limites e dói e faz doer porque ficamos negligentes com aquilo que é realmente importante em busca do elixir que desenfreadamente querememos tornar nosso, achando que com aquilo sim... E depois os tesouros que temos que manter, que cuidar religiosamente, ficam para atrás esquecidos e desamparados, sem mimo, no baú do sotão. A palavra que nos sossega, o abraço que nos securiza, o ombro que se oferece sem o pedirmos, o colo fofo que não se encontra em loja alguma, o afecto que nos alimenta sem apresentar conta, a companhia que nos aquece, a presença que nos ilumina, o prazer de ter alguém com quem partilhar o que é nosso, o prazer de ter alguém que connosco caminha. Isto sim é algo que só os loucos deixam faltar às suas vidas, e nós não somos loucos pois não?
Em conversas que vou tendo com amigas, algumas já casadas, uma coisa é unânime. Filhos, "ainda não"..., não chegou ainda o instinto, a vontade - "Ai não estou ainda preparada". Pois, não estamos ainda preparadas, de facto são giros, fazem umas coisas engraçadas, têm uma pele cheirosa, mas viramos as costas e sabemos que ficam nos colos das suas progenitoras. E claro nós, vamos para casa descansadas, a pensar no quanto sortudas somos, podemos alongar as horas de sono, somos rainhas do nosso dia, exceptuando o compromisso para com a entidade patronal que nos povoa de euros, que terão como destino coisas importantes como vestuário, livros, cinema, restaurantes e outras actividades deveras imprescindíveis. E não para fraldas, roupas para um ser que não pára de crescer, papinhas e mais papinhas... Mas lá vamos ouvindo - "eu com a tua idade já era mãe". Pois, e nós justificamos com a instabilidade laboral e de euros, a falta de tempo, o continuar a estudar, este é dito por mim - "ainda falta o mestrado e talvez o doutoramento". Mas ainda bem que não somos pinóquias e que o nosso nariz se mantém estacionário, porque no fundo, não estamos ainda preparadas para passarmos para segundo plano para sempre, tudo muda e ainda não queremos que mude. O meu drama pessoal é que o cheiro do instinto não me tem batido de todo à porta, nem consigo estruturar uma idade para o baptismo da maternidade. Bem, mas não se assustem, eu quero ter alguém que pertepue os meus genes e daquele que escolhi para comigo o partilhar e quero amar aquele ser, que em mim vai crescer e bombardeá-lo de beijos e de afectos mas as bochechinhas ainda vão ter que esperar!