"Ser poeta é ser mais alto, é ser maior... é ser mendigo e dar como quem seja rei do reino de aquém e de além dor... é ter cá dentro um astro que flameja, é ter garras e asas de condor... é ter fome, é ter sede de infinito... é seres alma e vida em mim e dizê-lo cantando a toda a gente" (Ser poeta, Florbela Espanca).
Ser poeta é ter o dom inato de olhar tudo o que mexe dentro e fora de si, que vive refém da necessidade de o pôr em palavras. É grande porque vê para além do horizonte, sem medo daquilo que está para além dessa linha. Pode ser pobre, ser mendigo, mas é dono de territórios, viajante de pés no chão, dono de tudo o que toca, de tudo o que vê. É saber que tem em si garras, dentes, sangue e lágrimas, mas também sorrisos, esperança e asas para voar. É ter fome de conhecer, de tocar as coisas, de as sentir verdadeiramente, sem medo de passar a ponte. Ser poeta é gostar de chocolate porque as palavras tornam-se doces e lindas, tornam-se canção que mesmo dura não fere, melodia que fica. E acredito que em cada um de nós mora um poeta porque tudo o que temos cá dentro e tudo o que está lá fora, é poesia. Os afectos são poesia, as pessoas são poesia, a natureza é poesia pura, já escrita. E a poesia não se esgota, há sempre um novo olhar que dá vida às coisas...