Depois de ver o filme "Ensaio sobre a cegueira", fiquei desiludida com a espécie homem, supostamente civilizada, com moral, regras de conduta e respeito, pelo menos aparente, com o seu semelhante! Mas que grande ultrage, fomos enganados. Se retirarmos ao ser de quatro patas com cérebro e emoções, o alimento, o conforto de um lar, de uma sociedade organizada e um dos quatro sentidos que a mãe natureza nos ofereceu como brinde, eclode um ser de quatro patas animalesco. Aliás, temos um verdadeiro predador à solta, as pulsões orais, agressivas e sexuais comandam o "socialite" bicharoco a que chamam de homem civilizado. Lobos maus vestidos de capuchinho-vermelho que perdem facilmente a compostura quando toca o sino da sobrevivência, é o sopro da vida que nos faz veloz e friamente galopar as adversidades.
E quanto à simbologia desta cegueira branca súbita, que afecta a humanidade com excepção de um elemento. Eu diria que se trata da cegueira que nos formata, fruto de uma sociedade despida... uma sociedade que nos faz passar pelas coisas sem as sentir e olhar verdadeiramente, que nos faz viver encapsulados nas nossas necessidades, interesses e insatisfação, que nos faz dar um aperto de mão em vez de um abraço, que nos faz ouvir e sentir a uma distância segura. De facto perante a perda vem a falta. Mas talvez se faça um "alerta laranja" e, evitemos a pressa, amemos o simples e valorizemos o pormenor, o momento, nem que seja por um breve momento. E a vida o que é senão, a soma de pormenores, de momentos partilhados...