Conheci um conjunto de pessoas que habitam uma casa de repouso na Margem Sul,
Na sua maioria são mulheres,
Singularidades que se cruzam na partilha de um Lar,
A velhice marca-lhes o rosto, fragiliza os seus ossos,
Retira-lhes a destreza dos movimentos,
Começam a ter companhia nos gestos íntimos que sempre foram sós,
As rotinas deixam de ser suas,
Deixam de ter refúgios só delas,
Apenas sofás e almofadas que baptizam como seus,
Instinto de tornar uma fatia nossa num todo que é de todos,
Elas entendem que os filhos têm as suas vidas,
Vidas preenchidas sem encaixe para si, culpa da dependência e da inviabilidade,
Aceitam que esta é a única possibilidade,,
Mas a saudade da SUA CASA, é mais difícil de apagar,
Do cheiro, objectos, do perfume das memórias,
A saudade da terra onde viveram e da segurança do que sempre integraram como seu,
E das gentes que davam cor aos seus dias,
Esta saudade não morre, fica sim mais discreta,
O "tem que ser" torna-se assim irredutível e austero,
Olham para o que têm à sua frente com resignação,
O olhar brilhante e doce fica agora para o que já lá vai,
Para os momentos que gravaram nas suas mentes, que reproduzem e dão voz com regularidade,
E para os momentos que, familiares e amigos, queiram com eles partilhar!